quinta-feira, 18 de junho de 2009

Carnavália



Parte notória da História, as lutas políticas registradas ao longo da contemporaneidade, abalizam um meio hábil e eficaz de amenizar as exclusões capitalistas, morais, étnicas, religiosas, etc, etc, etc. Partidárias ou não, geralmente constituem apenas a ponta do iceberg lutando para aparecer diante de um mar de injustiças por vezes letais - vide o movimento dos sem terra, as manifestações contra a ditadura militar na década de 60, o movimento dos caras pintadas na década de 90, o movimento feminista, etc.

A Parada Gay, como é chamada há tempos a caminhada feita por homossexuais no mundo todo, ora em busca de direitos, ora em busca de respeito, é um ato político, indubitavelmente importante não só para as conquistas legais, como para a assunção de identidade, o reconhecimento, a projeção ou identificação de milhões de pessoas que, desde seu nascimento nunca passaram despercebidas por serem diferentes da “maioria”. Para os jovens que sempre moraram em cidades provincianas deixem de se verem como pecadores, doentes, marginais. Para as meninas entenderem que como elas existem milhões e que há vida é possível e feliz além da heterossexualidade. Para as travestis e transexuais vislumbrarem um mundo menos medico e mais humano.

Muitos dos que ali estão tem uma consciência política de sua realidade, da importância da luta, do preconceito velado e por isso participam ativamente. No entanto, assim como em qualquer outra manifestação desta natureza, pessoas despolitizadas também marcam presença, engrossando o caldo da militância muitas vezes por diversão, sem se dar conta da importância do ato.

Mas uma população que rompe com tantos paradigmas, sobretudo com papeis de gênero, não poderia fazer uma manifestação a la PT, gritando com faixas e cartazes, de jeans desbotados e camisetas vermelhas no Vale do Anhangabaú, com show do Zeca Pagodinho na abertura e Padre Marcelo Rossi de encerramento. Jamais!

A manifestação pelo orgulho gay tem todas as cores do arco-íris, o som eletrizante das boates e guetos, as perucas coloridas, peitos siliconados das travestis de fora, as gravatas das meninas, o gel na cabeça dos meninos, a baby look agarrada no corpo magrelo, a galera que põe ligeiramente a cabeça fora do armário, outros que saíram há tempos. Enfim, muito glamour.

Uma festa pelo orgulho gay tem que romper não só com a heteronormatividade, mas com o moralismo, a caretice, a chatice que se tornou política no nosso país, a briga desta sopa de letrinhas saltitantes (LGBT, GLBT, GLBTT, GLTTB ???).
Como todo evento de grande porte, necessita de um aparato estatal e de organização para que se evitem excessos de algazarras e vandalismos. Necessita de proteção intensa para evitar ações de nazistas e papa hóstias funestos pecadores, mal amados e mal resolvidos.

Falar que a parada é um Carnaval não é uma ofensa á caminhada. È um lindo carnaval, alegre, colorido e orgulhoso de si.