Ontem assisti Che com amigas. Uma delas (ainda que negue) partidária do socialismo, me acusou (xingou?) de leitora da Veja quando zombei da figura dócil do argentino pintada na telona, bem diferente do autoritarismo e radicalismo que nós historiadoras conhecemos.
Diferente da minha amada amiga, não leio e não li a Veja, não faço ideia da matéria a que ela se referia. No entanto, ainda que não tivesse nenhum conhecimento ou crítica à tais idealistas a qualquer preço, não me dignaria a acreditar que os fins justificam os meios. Nem eu, nem Maquiavel.
Penso sempre nas consequências das boas intenções! Quantas pessoas morreram por não aceitarem a luta armada de Che? Quantas pessoas sofreram com o abuso de poder (por vezes sexual) dos seus homens, abuso esse que o filme pinta como alheio ao conhecimento do guerrilheiro?
Sim. Há mais de 50 anos cubanos morrem por causa de um embargo ridículo e desumano inventado pelos norte americanos. Mas até quando os ditadores cubanos vão sustentar tamanho massacre? Ainda que ele tivesse boas intenções...
Aquele Che demasiado borrado apenas satisfaz nossa necessidade de heróis.
Hoje quando acordei ainda puta com a tal discussão, lembrei do fragmento abaixo do Álvaro de Campos. Fica a dica.
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?