sábado, 15 de agosto de 2009

Globalização!


Talvez o poema dela mais lindo que já li, estampado pelo surrealismo chinês.


XLVI

Talvez eu seja
O sonho de mim mesma,
Criatura-ninguém
Espelhismo de outra
Tão em sigilo e extrema
Tão sem medida
Densa e clandestina

Que a bem da vida
A carne se fez sombra.

Talvez eu seja tu mesmo
Tua soberba e afronta.
E o retrato
De muitas inalcançáveis
Coisas mortas.

Talvez não seja.
E ínfima, tangente
Aspire indefinida
Um infinito de sonhos
E de vidas.

Hilda Hilst